É comum pensar que matemática não serve para nada, e que tudo aquilo que
aprendemos na escola é uma perda de tempo. No entanto, não ter habilidades
matemáticas é uma má notícia para a nossa carreira, escolhas de vida e até mesmo
para nossa saúde mental.
Muitos estudantes têm verdadeiro medo de matemática, um sentimento impulsionado
por uma cultura que está constantemente tentando nos convencer de que ela é
difícil e inútil.
No entanto, o tempo passa e nossas vidas pessoais e profissionais tornam-se cada
vez mais dependentes da nossa capacidade de compreender e processar números, que
hoje simplesmente não é boa.
De acordo com dados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), uma
rede mundial de estimativa do desempenho escolar coordenada pela Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil está na 58ª
posição do ranking em matemática. O primeiro lugar é da China. Abaixo do Brasil,
aparecem Argentina (59ª) e Peru (65ª).
De 2009 a 2012, o Brasil ganhou pontos no ranking em matemática, passando de 386
a 391, mas a melhora não foi suficiente para que o país avançasse de posição e,
apesar da melhora, 2 em cada 3 alunos brasileiros de 15 anos não conseguem
interpretar situações que exigem apenas deduções diretas da informação dada, e
não são capazes de entender percentuais, frações ou gráficos.
A numeracia que poucos têm, ou a matemática que é pouco ensinada
Alfabetização matemática não implica proficiência em algumas das áreas mais
avançadas de matemática, como cálculo ou trigonometria. Em vez disso, descreve o
conhecimento e as habilidades necessárias para gerenciar com eficácia as
demandas matemáticas de diversas situações.
Também chamada de numeracia, a alfabetização matemática não
requer o conhecimento da “matemática escolar”, mas sim um nível mínimo de
competência necessária para compreender e manipular números.
É a capacidade de um indivíduo de identificar e compreender o papel que a
matemática desempenha no mundo, fazendo julgamentos bem fundamentados e usando a
matemática de forma que atenda às suas necessidades como um cidadão construtivo,
preocupado e reflexivo.
Alfabetização em matemática, portanto, é menos sobre as habilidades com equações complexas e mais sobre a capacidade de realizar operações mecânicas com números e símbolos.
Alfabetização em matemática, portanto, é menos sobre as habilidades com equações complexas e mais sobre a capacidade de realizar operações mecânicas com números e símbolos.
Numeracia também pode envolver o que o matemático Sol Garfunkel chama de
“alfabetização quantitativa”, a habilidade de fazer conexões quantitativas
sempre que a vida exige (como ser confrontado com resultados de testes médicos
conflitantes, e precisar decidir se submeter a um ou outro procedimento) e
“modelagem matemática”, ou a capacidade de resolver na prática problemas
cotidianos e formulações matemáticas (como decidir se é melhor comprar ou alugar
uma casa).
Necessidade gritante
A nossa necessidade de matemática nunca foi tão grande. Cada vez mais tem uma
influência pronunciada sobre nossas escolhas fiscais e até mesmo sobre nosso
risco no que tange à saúde. Tem até sido associada com uma susceptibilidade
reduzida ao efeito de enquadramento (um viés cognitivo no qual as pessoas reagem
às opções dependendo se elas são ou não apresentadas de uma forma positiva ou
negativa), a tendência de escolha lógica sobre a emoção, e uma maior consciência
dos riscos que têm um componente numérico envolvido.
Tão importante quanto isso, a numeracia também tem um impacto significativo em
nossas carreiras. Tendo em conta que o mundo está se movendo em direção a uma
economia baseada no conhecimento, a falta de habilidade matemática é uma grande
preocupação que afeta não só nossas oportunidades, mas também nossa capacidade
de avaliar criticamente as informações a nós apresentadas, tirando nossas
próprias conclusões, ao invés de alguém ter que nos dizer o que elas significam.
De fato, muitas profissões exigem pelo menos um senso rudimentar de matemática,
incluindo contabilidade, análise de risco, finanças, engenharia, arquitetura,
ciências sociais, planejamento urbano e outras, incluindo trabalhos fora das
áreas especializadas.
Não saber matemática reduz as chances de emprego e promoções, resultando em
carreiras não qualificadas, empregos de baixa remuneração e desemprego.
De acordo com a pesquisa PISA, a proficiência em matemática é um forte preditor
de resultados positivos para jovens adultos, que influencia seus ganhos futuros.
As competências de base em matemática têm um grande impacto sobre as
oportunidades de vida dos indivíduos, aumentando o acesso das pessoas a empregos
melhor remunerados e mais gratificantes, além de estarem intimamente
relacionadas à forma como a riqueza é compartilhada dentro das nações.
Além disso, a pesquisa mostra que as pessoas com fortes habilidades em
matemática também são mais propensas a se voluntariar, se veem mais como atores
e não como objetos de processos políticos e são mais propensas a confiar nos
outros. Justiça, integridade e inclusão nas políticas públicas, portanto, também
dependem das competências matemáticas dos cidadãos.
Solução simples
Taxas de numeracia baixas e até mesmo a relutância em se concentrar em áreas
mais avançadas de matemática são, em grande parte, a consequência de uma cultura
antimatemática. Não é raro ouvir os alunos queixarem-se de quão chata, difícil
ou inútil ela é. Claramente, essa cultura tem que mudar.
Mas, para isso, também que temos que levar a conta a ansiedade que a matemática
produz, uma condição real com consequências para a saúde mental.
Ansiedade matemática é um sentimento de tensão, apreensão ou medo que interfere
com o desempenho de matemática das pessoas. Pesquisas já mostraram que os
indivíduos com ansiedade matemática têm pior memória de trabalho, o que é
provavelmente causado por uma interrupção de processos centrais no cérebro.
Estudos anteriores também mostraram que confiança pode amenizar essa ansiedade.
Por exemplo, a ameaça de reputação quando se trata de desempenho
ruim em matemática causa ansiedade. Estudos têm demonstrado que mulheres
se saem melhor em testes quando usam nomes falsos. Ao assumir um
outro nome – quer se trate de um masculino ou feminino -, as mulheres podem
anular a ameaça de manchar sua reputação (e provar
o falso estereótipo de que são ruins de conta) e usam suas
verdadeiras habilidades matemáticas.
Além disso, ansiedade matemática é mais sobre a antecipação de fazer contas do
que sobre fazer contas. Só de pensar nisso, o cérebro de uma pessoa pode mostrar
os mesmos sinais do
que quando ela está sentindo dor.
Então, como aliviar a ansiedade matemática? E como podemos deixar de lado a
cultura anti-matemática predominante?
Tudo se resume à qualidade da educação e como a matemática é apresentada, diz
Garfunkel.
Diferentes conjuntos de habilidades matemáticas são úteis para diferentes
carreiras, e a educação matemática tem que refletir isso.
Por exemplo, quantas vezes a maioria dos adultos se encontrou uma situação em que eles precisaram resolver uma equação quadrática? Será que eles precisam saber o que é um número complexo?
Por exemplo, quantas vezes a maioria dos adultos se encontrou uma situação em que eles precisaram resolver uma equação quadrática? Será que eles precisam saber o que é um número complexo?
Claro, matemáticos, físicos e engenheiros profissionais precisam saber de tudo
isso, mas a maioria dos cidadãos tiraria melhor proveito do estudo de hipotecas,
programação de computadores e leitura de resultados estatísticos de um ensaio
clínico, para citar alguns exemplos.
Um currículo de matemática que incida sobre os problemas da vida real exporia os
alunos a ferramentas abstratas de matemática, especialmente a manipulação de
quantidades desconhecidas, mas não focaria somente no ensino da matemática
“pura”, sem contexto, e sim ensinaria problemas relevantes que levariam os
alunos a apreciar a maneira como um modelo de fórmula matemática esclarece
situações do mundo real.
Outra mudança positiva seria abolir o uso da misteriosa variável “x”,
que muitos estudantes se esforçam para entender, e passar para uma abordagem
contextual, no estilo que os cientistas trabalham, introduzindo fórmulas com
abreviaturas para quantidades simples, como a famosa equação de Einstein, “E =
mc2”, onde “E” representa energia, “m” massa e “c” velocidade da luz.
Garfunkel nos pede para imaginar álgebra, geometria e cálculo sendo substituídos
por coisas como finanças, contabilidade e engenharia básica. Assim, no curso de
finanças, os alunos aprenderiam a usar fórmulas em planilhas e estudar
orçamentos de pessoas, empresas e governos, e no curso de engenharia básica,
aprenderiam o funcionamento de motores, ondas sonoras, sinais de TV e
computadores etc.
O que você acha? Com certeza, seria uma nova visão da matemática nas escolas,
mas traria, de fato, melhores resultados para a sociedade? [io9, UOL]
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